22 de agosto de 2010

O momento é dos tecnicos no mercado de trabalho


Cursos profissionalizantes facilitam a inserção no mercado de trabalho. Aumento da demanda por profissionais com prática é a melhor dos últimos cinco anos

Ingrid de Andrade, Rômer Castanheira e Natália Silva

Para atender à demanda do mundo do trabalho, os cursos profissionalizantes se ajustam ao novo cenário da indústria, desenhado, entre outros fatores, pela exigência de qualificação dos trabalhadores. Prova disso é o aumento da procura por cursos profissionalizantes, cujo diferencial está na curta duração (em média dois anos) e na ênfase prática. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) indicam que em 2007 o número de alunos brasileiros na modalidade era de 682.431. Em 2009, pulou para 857.195, um crescimento de 25,6%.
O supervisor técnico do SENAI, Mário Lúcio da Silva, confirma que o momento é de ascensão dos cursos técnicos. Ele ainda ressalta que com essa capacitação, os alunos terão melhores condições de ingresso no mercado de trabalho, que se somará a formação profissional, com vistas ao primeiro emprego.
Mário também foi aluno de um curso profissionalizante de mecânica no período da ditadura militar, entre 1972 a 1974. Ele afirma que as perspectivas de estabilidade financeira permanecem as mesmas de quando formou-se, pois o mercado continua a procura de técnicos.
O auxiliar de mecânico Rafael de Brites do Nascimento já fez dois cursos profissionalizantes ligados à sua área, mecânico geral e técnico em eletromecânica.
Isso
lhe proporcionou a abertura para o mercado de trabalho e assim obteve a certeza de que para a sua vida acadêmica, esta seria a melhor opção. Segundo ele, o curso técnico prepara as pessoas para as práticas e vivências do trabalho, já a universidade seria um lugar para desenvolver habilidades teóricas. Além disso, os cursos técnicos têm duração média de um ano e meio a dois anos, enquanto uma graduação pode durar até seis anos.
Viviane Giarola fez os cursos de aprendizagem e eletroeletrônica e técnico em eletrotécnica. Atualmente não exerce atividades relacionadas à sua área de formação, mas cita a importância dos cursos na sua vida pessoal pelas as amizades que construiu ao longo desses dois anos e meio. “Sem dúvida ampliei meu network e também os conhecimentos práticos que aprendi e, hoje aplico no meu cotidiano”, comenta.
A ex-aluna afirma que encontrou dificuldades no mercado de trabalho. “Minha maior dificuldade  em exercer esta profissão é o fato de ela proporcionar maior preferência ao sexo masculino”.  Mesmo assim, recomenda o curso em virtude do alto prestígio que os alunos têm no mercado de trabalho e do direcionamento e auxílio que os cursos promovem na busca por uma profissão.
Cursos profissionalizantes na região:
Curso
Endereço/ Telefone
Cenep
Rua Luiz Bacarini, 111 - Centro - São João Del Rei – MG - (32) 3371-5798
CVT-CentroVocacional Tecnológico
Av Hermílio Alves, 234 - Centro - São João Del Rei - MG -     (32) 3371-8613
Escola Técnica de Comércio Tiradentes
Rua Luiz Bacarini, 111 - Centro - São João Del Rei - MG –
PABX: (32) 3371-9249
Microlins-Formação Profissional
Rua Sebastião Sette, 14 sl 102 - Centro - São João Del Rei - MG -(32) 3371-8418               
SENAI
Pc Sr Bom Jesus Matozinhos, 1- Matozinhos - São João Del Rei - MG –
(32) 3371-6303

Gêneros e tipologias





Patrick Charaudeau (2006) é professor na Universidade de Paris-Nord (Paris 13), e diretor-fundador do Centro de Análise de Discurso (CAD). Publicou vários livros entre eles Discurso das mídias, que aborda as mídias sob a perspectiva do discurso que delas emana. O livro Discurso das mídias é composto de Introdução e cinco capítulos que são subdivididos em 16 subcapítulos/artigos, porém, nesta resenha abordaremos apenas o capítulo quatro, Os gêneros do discurso de informação.
O capítulo em estudo pode ser dividido em duas partes, que se subdividem em outras seções. A primeira parte é divida em duas secções e o autor usa uma base referencial teórica, tentando explicar o que é gênero e tipologia. Segundo Charaudeau (2006), gênero é
Constituído pelo conjunto das características de um objeto e constitui uma classe à qual o objeto pertence. Qualquer outro objeto tendo essas mesmas características integrará a mesma classe. Para os objetos que são textos, trata-se de classe textual ou de gênero textual. (CHARAUDEAU, 2006, p.204)

O autor relaciona gênero à mídia, dizendo que o gênero de informação midiática é o resultado do cruzamento entre um tipo instancia enunciativa (que é marcada pela maneira qual é identificado o autor do texto- oral ou escrito), modo discursivo (separado em três categorias relatar acontecimentos- notícia, comentar acontecimentos - reportagem e provocar acontecimento- debate), conteúdos temáticos (secção de recorte, especificando cada área) e dispositivos (separa os gêneros de acordo com o suporte midiático – impressa, rádio e TV).
Charaudeau (2006), defini tipologia como resultado de uma determinada classificação de gêneros. Assim cria um quadro de dois eixos para melhor explicar sua ideia de tipologia. No eixo horizontal, encontram-se os modos discursivos em três zonas: na primeira extremidade, o acontecimento relatado, zona na qual se impõe o acontecimento exterior, na extremidade oposta, o acontecimento provocado, que se impõe o mundo midiático e entre as duas, o acontecimento comentado, pois esta pode conter os anteriores. No eixo vertical, possui os engajamentos, ou seja, o fato do enunciador manifestar mais ou menos sua própria opinião, ou suas apreciações ou a maneira de encenar o acontecimento, estando assim mais ou menos engajados com o assunto ou com o gênero.
A segunda parte do texto abandona os conceitos e detalha alguns gêneros de informação, separados em cinco secções: entrevista, debate, reportagem, gêneros da TV e gêneros da impressa escrita. Esses gêneros são o resultado do entrecruzamento das características de um dispositivo, do grau de engajamento do sujeito que informa e do modo de organização discursivo que é escolhido.
Ao falar da entrevista ele acentua a importância da voz, que manifesta uma relação de oralidade que implica numa relação de diálogo, esta situação gera uma relação de intimidade, que faz da mídia entrevista, por excelência a mídia rádio. Sobre a entrevista jornalística, o autor diz que ela possui uma especificidade pelo contato midiático: o entrevistador, o entrevistado e o ouvinte, formando assim um dispositivo triangular.
O debate, para Charaudeau (2006), é uma forma de espetacularização do espaço verbal, que reuni convidados em torno de uma animador para tratar de um determinado tema, é organizado e gerenciado pela instância midiática. Ainda segundo o autor, reportagem tem como tema central um fenômeno social ou político, que tentará ser explicado. A reportagem deve adotar um ponto de vista distanciado e global e deve propor ao mesmo tempo um questionamento sobre o fenômeno tratado. Dentro da reportagem, Charaudeau (2006), critica a técnica da gangorra, onde os jornalistas deveriam ser imparciais e acabam sendo bastante parciais.
Para Charaudeau (2006), a televisão é o domínio do visual e do som, lugar da combinação de dois sistemas semiológicos, o da imagem e o da palavra, dando ao público a chance de fabricar um imaginário, mas ao mesmo tempo conhecer a realidade do mundo. O último item trabalhado é o gênero da imprensa escrita, que para o autor, quer dizer o campo de atividade discursiva e semiológica, o da contextualização que inscreva numa situação de troca monolocutiva e se organiza sobre um suporte espacial. Assim a imprensa escrita deve trabalhar com a visibilidade (notícias facilmente encontradas), legitimidade (que as notícias estejam da forma mais clara) e inteligibilidade (o entendimento da notícia), e adequar-se as novas tendências como textos curtos, aumento da publicidade, tipografia, secções e outras.
O texto é bastante didático e bem dividido, porque Charaudeau (2006) faz uma tipologia dos textos de informação midiática, construindo um modelo baseado na relação com as estratégias da informação, o que torna útil para pesquisadores, alunos e profissionais da área da comunicação social.

21 de agosto de 2010

Iguais na diferença


IGUAIS NA DIFERENÇA
Ayalla, Ingrid e Natália

De acordo com dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), há hoje, no Brasil, 24,6 milhões de pessoas portadoras de deficiências (PPDs). Muitas dessas pessoas procuram ajuda para a reabilitação e superam suas limitações, na maioria das vezes o apoio é encontrado primeiramente nos familiares. Particularmente em São João del-Rei há quatro casos de superação da deficiência que chamam a atenção pela determinação e pelo desejo dos deficientes de mostrar seu valor como cidadãos. São eles: Fábio, professor universitário cadeirante e três irmãos idosos, Inácio, Terezinha e Euclides, deficientes visuais e auditivos.
    À psicóloga Aparecida Mercês Silva, foi questionada a definição de superação. Para ela, superação é “acreditar que você pode, é fazer acontecer de uma maneira saudável e natural, é ir além das dificuldades que aparentemente possam existir. Todas as dificuldades serão encontradas se o deficiente não acreditar em si mesmo, se ele for o preconceituoso. Independente das deficiências somos todos diferentes, e é isso que nos torna especiais naquilo que somos ou fazemos”.  Ainda segundo a psicóloga o

apoio da família é muito importante, pois assim o processo de superação se torna mais fácil, e tem uma resposta mais rápida. Em casos que ocorre a superação fica clara a parceria com a família e a demonstração de força e coragem dos mesmos.
Fábio Abreu dos Passos, graduado em Filosofia pela UFSJ e mestre em Filosofia Política e Social pela UFMG tem 33 anos e é cadeirante desde a infância. Após 45 dias do nascimento de Fábio, durante o banho, sua mãe percebeu que uma de suas pernas não mexia e uma semana depois a outra também parou de mexer. A partir de então foi descoberto um desvio na coluna cervical, devido a um possível tombo, e ele perdeu todos os movimentos da cintura pra baixo.
Dona Ezilma, mãe de Fábio, teve três filhos e a convivência entre eles foi muito intensa por não haver crianças vizinhas. De acordo com Fábio sua deficiência nunca foi um motivo para receber tratamento diferenciado por parte de sua família. Ele sempre brincou e foi advertido como todos os outros irmão
Desde criança havia a esperança de que através de um procedimento cirúrgico Fábio recuperasse seus movimentos, por isso ele não iniciou os estudos na idade regular, começando a estudar, somente, aos 18 anos de idade. Outro motivo para não ter iniciado os estudos, foi o fato de anteriormente, ele não ver necessidade
em estudar.
Quando Fábio começou o freqüentar o supletivo já sabia ler e escrever, pois sua irmã o ensinara quando crianças. O ambiente escolar lhe proporcionou fazer amigos, e a partir de então ele começou a sair, ir aos bailes, barzinhos e namorar, como qualquer jovem de sua idade. Sua deficiência física nunca foi motivo para qualquer tipo de discriminação, segundo Fábio, em 33 anos de vida, em tempo algum ele passou por constrangimentos. O entrevistado afirmou ser “totalmente independente”, principalmente após adquirir sua cadeira motorizada. Fábio já ministrou palestras sobre inclusão e superação de deficientes, foi professor do ensino fundamental, médio e de curso preparatório para o vestibular, hoje é professor no Instituto de Ensino Superior Presidente Tancredo Neves –IPTAN.
Márcia Valéria de Freitas Souza é casada, tem três filhos biológicos e três filhos “adotivos”. Na verdade, os três filhos adotivos são tios do seu marido, são eles: Inácio Vital de Souza (78) Terezinha Vital de Souza (79), Euclides Vital de Souza (83). Os idosos são portadores de deficiência visual e auditiva.Todos nasceram surdos e enxergaram até aproximadamente a idade de 20 anos, os problemas são devidos a uma herança genética.
Devido á deficiência desde a infância, os pais os ensinaram uma forma de comunicação através do tato, que foi transmitida também a todas as pessoas próximas. A idade e a deficiência não são empecilhos para os idosos, eles continuam mostrando boa vontade e ajudam nos afazeres domésticos, ficando angustiados quando isso não lhes é permitido.  Segundo Márcia, eles são fortes, saudáveis e muito amorosos com toda família e com quem os visitam. A superação, neste caso, está presente na forma pela qual os três irmãos foram educados, a forma pela qual se comunicam, apesar das dificuldades, e o desejo dos mesmos de viver e provar que podem muito.

O gene torto mais gênio do Brasil




Antônio José Santana Martins, o Tom Zé, é baiano, nascido em Irará, porém é paulistano adotado e corintiano de paixão. Ele é uma das figuras mais originais e controvertidas da MPB, aprendeu a gostar de música ouvindo rádio em sua cidade natal a ponto de decidir estudar música na Universidade da Bahia, em Salvador. “Feio, pobre, baiano, filho da puta” é o resumo que Tom Zé faz de si, alem de dizer que “só um gene torto pode ter dado origem a alguém assim”, um gênio com defeito de fabricação.
No começo da década de 60 conheceu Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, com este grupo foi para São Paulo, onde participaram dos Festivais de Música Popular da época, dando origem ao movimento tropicalista. Misturando subdesenvolvimento e sofisticação, Tom Zé realiza a síntese de extremos. Daí porque talvez ele seja o mais tropicalista dos tropicalistas, o movimento que colocou em choque um Brasil ao mesmo tempo moderno e cafona. Porém com o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Tom Zé é massacrado pela mídia brasileira e esquecido pelo público.
No fim da década de 80 sua carreira sofreu uma reviravolta quando o músico David Byrne descobriu num sebo o inovador "Estudando o Samba", LP em que Tom Zé mexe nas estruturas do principal gênero musical do país. Fascinado, Byrne lançou o compositor no mercado internacional. A crítica americana achou que Tom Zé é um artista maravilhoso, uma perfeita junção da inteligência com a paixão. A partir de então ele passou a ter uma carreira sólida no exterior, onde tornou-se mais popular do que dentro de seu próprio país.
O refrão de Tô diz assim: “Tô te explicando pra te confundir/ tô te confundindo pra te esclarecer/ tô iluminando pra poder cegar/ tô ficando cego pra poder guiar”. Estes versos extraordinários são um resumo perfeito da personalidade de Tom forte e sem papas na língua. Tom Zé revela-se exigente e até mesmo perfeccionista com seu trabalho: percebemos isso em suas gravações no estúdio, nos ensaios com a banda, nos improvisos durante os shows. Em sua turnê pela Europa em 2005, vive um caminho com altos e baixos, acertos e erros: a banda é ovacionada em Paris; recebe vaias em Viennes e se envolve em uma briga nos bastidores do festival de Montreux, quando Tom Zé parte para cima do técnico de som do festival aos gritos de “vá pra porra” – grito de baiano “arretado” na Meca dos fãs de jazz.
Porém apesar de sua personalidade marcante, o que lhe da sustentação na vida, é sua mulher Neusa. Jornalista que abandonou a profissão para se casar com Tom Zé e ser sua produtora, é ela quem o suporta (e lhe dá suporte). Neusa é onipresente, é na  sua face serena que conseguimos perceber a dor e a delícia da existência de Tom Zé. Como confessa ele, “sua vida é fazer Neusa feliz”. Esse é Tom Zé, o nordestino mais paulista do Brasil, esquecido pela pátria, que renasceu no exterior e hoje é ovacionado por quem o renegou.