22 de agosto de 2010

Gêneros e tipologias





Patrick Charaudeau (2006) é professor na Universidade de Paris-Nord (Paris 13), e diretor-fundador do Centro de Análise de Discurso (CAD). Publicou vários livros entre eles Discurso das mídias, que aborda as mídias sob a perspectiva do discurso que delas emana. O livro Discurso das mídias é composto de Introdução e cinco capítulos que são subdivididos em 16 subcapítulos/artigos, porém, nesta resenha abordaremos apenas o capítulo quatro, Os gêneros do discurso de informação.
O capítulo em estudo pode ser dividido em duas partes, que se subdividem em outras seções. A primeira parte é divida em duas secções e o autor usa uma base referencial teórica, tentando explicar o que é gênero e tipologia. Segundo Charaudeau (2006), gênero é
Constituído pelo conjunto das características de um objeto e constitui uma classe à qual o objeto pertence. Qualquer outro objeto tendo essas mesmas características integrará a mesma classe. Para os objetos que são textos, trata-se de classe textual ou de gênero textual. (CHARAUDEAU, 2006, p.204)

O autor relaciona gênero à mídia, dizendo que o gênero de informação midiática é o resultado do cruzamento entre um tipo instancia enunciativa (que é marcada pela maneira qual é identificado o autor do texto- oral ou escrito), modo discursivo (separado em três categorias relatar acontecimentos- notícia, comentar acontecimentos - reportagem e provocar acontecimento- debate), conteúdos temáticos (secção de recorte, especificando cada área) e dispositivos (separa os gêneros de acordo com o suporte midiático – impressa, rádio e TV).
Charaudeau (2006), defini tipologia como resultado de uma determinada classificação de gêneros. Assim cria um quadro de dois eixos para melhor explicar sua ideia de tipologia. No eixo horizontal, encontram-se os modos discursivos em três zonas: na primeira extremidade, o acontecimento relatado, zona na qual se impõe o acontecimento exterior, na extremidade oposta, o acontecimento provocado, que se impõe o mundo midiático e entre as duas, o acontecimento comentado, pois esta pode conter os anteriores. No eixo vertical, possui os engajamentos, ou seja, o fato do enunciador manifestar mais ou menos sua própria opinião, ou suas apreciações ou a maneira de encenar o acontecimento, estando assim mais ou menos engajados com o assunto ou com o gênero.
A segunda parte do texto abandona os conceitos e detalha alguns gêneros de informação, separados em cinco secções: entrevista, debate, reportagem, gêneros da TV e gêneros da impressa escrita. Esses gêneros são o resultado do entrecruzamento das características de um dispositivo, do grau de engajamento do sujeito que informa e do modo de organização discursivo que é escolhido.
Ao falar da entrevista ele acentua a importância da voz, que manifesta uma relação de oralidade que implica numa relação de diálogo, esta situação gera uma relação de intimidade, que faz da mídia entrevista, por excelência a mídia rádio. Sobre a entrevista jornalística, o autor diz que ela possui uma especificidade pelo contato midiático: o entrevistador, o entrevistado e o ouvinte, formando assim um dispositivo triangular.
O debate, para Charaudeau (2006), é uma forma de espetacularização do espaço verbal, que reuni convidados em torno de uma animador para tratar de um determinado tema, é organizado e gerenciado pela instância midiática. Ainda segundo o autor, reportagem tem como tema central um fenômeno social ou político, que tentará ser explicado. A reportagem deve adotar um ponto de vista distanciado e global e deve propor ao mesmo tempo um questionamento sobre o fenômeno tratado. Dentro da reportagem, Charaudeau (2006), critica a técnica da gangorra, onde os jornalistas deveriam ser imparciais e acabam sendo bastante parciais.
Para Charaudeau (2006), a televisão é o domínio do visual e do som, lugar da combinação de dois sistemas semiológicos, o da imagem e o da palavra, dando ao público a chance de fabricar um imaginário, mas ao mesmo tempo conhecer a realidade do mundo. O último item trabalhado é o gênero da imprensa escrita, que para o autor, quer dizer o campo de atividade discursiva e semiológica, o da contextualização que inscreva numa situação de troca monolocutiva e se organiza sobre um suporte espacial. Assim a imprensa escrita deve trabalhar com a visibilidade (notícias facilmente encontradas), legitimidade (que as notícias estejam da forma mais clara) e inteligibilidade (o entendimento da notícia), e adequar-se as novas tendências como textos curtos, aumento da publicidade, tipografia, secções e outras.
O texto é bastante didático e bem dividido, porque Charaudeau (2006) faz uma tipologia dos textos de informação midiática, construindo um modelo baseado na relação com as estratégias da informação, o que torna útil para pesquisadores, alunos e profissionais da área da comunicação social.

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