21 de agosto de 2010

O gene torto mais gênio do Brasil




Antônio José Santana Martins, o Tom Zé, é baiano, nascido em Irará, porém é paulistano adotado e corintiano de paixão. Ele é uma das figuras mais originais e controvertidas da MPB, aprendeu a gostar de música ouvindo rádio em sua cidade natal a ponto de decidir estudar música na Universidade da Bahia, em Salvador. “Feio, pobre, baiano, filho da puta” é o resumo que Tom Zé faz de si, alem de dizer que “só um gene torto pode ter dado origem a alguém assim”, um gênio com defeito de fabricação.
No começo da década de 60 conheceu Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, com este grupo foi para São Paulo, onde participaram dos Festivais de Música Popular da época, dando origem ao movimento tropicalista. Misturando subdesenvolvimento e sofisticação, Tom Zé realiza a síntese de extremos. Daí porque talvez ele seja o mais tropicalista dos tropicalistas, o movimento que colocou em choque um Brasil ao mesmo tempo moderno e cafona. Porém com o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Tom Zé é massacrado pela mídia brasileira e esquecido pelo público.
No fim da década de 80 sua carreira sofreu uma reviravolta quando o músico David Byrne descobriu num sebo o inovador "Estudando o Samba", LP em que Tom Zé mexe nas estruturas do principal gênero musical do país. Fascinado, Byrne lançou o compositor no mercado internacional. A crítica americana achou que Tom Zé é um artista maravilhoso, uma perfeita junção da inteligência com a paixão. A partir de então ele passou a ter uma carreira sólida no exterior, onde tornou-se mais popular do que dentro de seu próprio país.
O refrão de Tô diz assim: “Tô te explicando pra te confundir/ tô te confundindo pra te esclarecer/ tô iluminando pra poder cegar/ tô ficando cego pra poder guiar”. Estes versos extraordinários são um resumo perfeito da personalidade de Tom forte e sem papas na língua. Tom Zé revela-se exigente e até mesmo perfeccionista com seu trabalho: percebemos isso em suas gravações no estúdio, nos ensaios com a banda, nos improvisos durante os shows. Em sua turnê pela Europa em 2005, vive um caminho com altos e baixos, acertos e erros: a banda é ovacionada em Paris; recebe vaias em Viennes e se envolve em uma briga nos bastidores do festival de Montreux, quando Tom Zé parte para cima do técnico de som do festival aos gritos de “vá pra porra” – grito de baiano “arretado” na Meca dos fãs de jazz.
Porém apesar de sua personalidade marcante, o que lhe da sustentação na vida, é sua mulher Neusa. Jornalista que abandonou a profissão para se casar com Tom Zé e ser sua produtora, é ela quem o suporta (e lhe dá suporte). Neusa é onipresente, é na  sua face serena que conseguimos perceber a dor e a delícia da existência de Tom Zé. Como confessa ele, “sua vida é fazer Neusa feliz”. Esse é Tom Zé, o nordestino mais paulista do Brasil, esquecido pela pátria, que renasceu no exterior e hoje é ovacionado por quem o renegou.

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